quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Do exílio

Fui à varanda da sala fumar o cigarro para a minha regularidade mental. E vi o sol tremulado no horizonte em frente. E houve um estremecer de alegria em mim nesse frémito de luz. E vim aqui dizê-lo sem sabê-lo dizer. Agora que já passou a alegria e regresso ao afundamento de mim.

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quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Uma guitarra imensa, abrindo num acorde pelo céu

Explosions in The Sky - Welcome, Ghosts

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Manual de sobrevivência

Trabalhar em Agosto pode ser de uma crueldade bruta para quem foi embebido desde cachopo do inviolável relógio anímico nacional. Tempo de esvaziamento, tempo de liquidação do autómato que nos vai oprimindo durante todo o ano. Compasso de espera, de evocação , de renascimento. Por isso desafiar este mês com obrigações pode ser de um sofrimento atroz digno de uma epopeia, sobretudo quando se tem metas a cumprir com celeridade. Pior ainda quando se vive numa cidade que tem a sua programação sintonizada com a debandada geral da vida académica. E o homem é um ser gregário por natureza, dizem os psicólogos. E a preguiça é a mãe de todos os vícios, diz o povo. Contagiante e perversora. E este é ainda o sagrado mês da “silly season” nacional, dizem os jornalistas. Como é que em face destes factos inverosímeis se arranja ainda um espaço mental harmonioso para trabalhar como no resto do ano? Mas nem tudo é um calvário. Por contraposição cria-se uma sensação de apaziguamento geral. As estradas e as ruas estão desimpedidas do rebuliço de carros e pessoas que durante o ano nos deixa por vezes à porta da insânia. O tempo até vai ajudando um pouco com os seus extemporâneos achaques de frescura que nos fazem esquecer a indolência generalizada . E depois é apreciar os doces momentos que por vezes a solidão nos traz. A calmaria em certas alturas. Não apenas a que se define por ausência de movimento mas a outra, a que sobe além dessa e chega até a beatitude. Porque só aí se nos abrem os olhos para a beleza melancólica e a maravilha do mistério de tudo. E só aí se escuta a voz inaudível, a que espera que todo o ruído cesse e cesse mesmo o silêncio que se lhe segue. Neste mês torna-se ainda mais visível o enigma irreal e extático em que Coimbra se suspende. Haverá melhor altura do ano para olhar o rio e sua placidez bucólica debaixo de um imenso véu alaranjado de fim de tarde? E por vezes. Em certos momentos de não sei quê de assombroso. Prestar atenção à música longínqua que se evola do cimo dos vales, do absoluto da imaginação, do fundo da memória. Tudo tão pouco. Tudo tão de tudo. Agosto na cidade pode trazer consigo a voz de um começo, de um abrir para as origens, lugar incerto do nosso destino, da nossa vocação. A cidade torna-se íntima companheira e traz consigo uma transcendente disponibilidade materna. Fora da comunidade, somos nós que a inventamos e nos descobrimos. Até ao afundamento de nós. É escasso para os práticos e inquietos ( e até mesmo para os diletantes do silêncio, como eu), mas o manual de sobrevivência para este mês na cidade nunca foi sinónimo de facilidades. Resta-nos aproveitar o vago de encantamento que por vezes se nos cria. E olhar a génese de tudo. Pela primeira e última vez.
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terça-feira, 14 de agosto de 2007

Fresco e vitaminado, como a época pede

O que se vai explorando por estes lados...Os comentários ao álbum “Na Mouche” pelo especialista de serviço que mora aqui ao lado.
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Gástrico

O programa “O Dia Seguinte” é uma verdadeira montra sociológica para o fenómenos de clubite aguda, do qual os constantes refluxos azedos e birras mudas do Dias Ferreira constituem os melhores exemplos do verdadeiro objectivo do programa : cómico futebolístico, lá está! E pouco mais tenho a dizer para não prevaricar mais no pecado do futebolês.
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domingo, 12 de agosto de 2007

Há 100 anos atrás nascia o criador de bichos, mundos e montanhas

Porque não sei mentir,
Não vos engano:
Nasci subversivo.
A começar por mim - meu principal motivo
De insatisfação.
Diante de qualquer adoração,
Ajuízo.
Não me sei conformar.
E saio, antes de entrar,
De cada paraíso.
"Letreiro" em Orfeu Rebelde (1958)

"Todos nós criamos o mundo à nossa medida. O mundo longo dos longevos e curto dos que partem prematuramente. O mundo simples dos simples e o complexo dos complicados. Criamo-lo na consciência, dando a cada acidente, facto ou comportamento a significação intelectual ou afectiva que a nossa mente ou a nossa sensibilidade consentem. E o certo é que há tantos mundos como criaturas. Luminosos uns, brumosos outros, todos singulares. O meu tinha de ser como é, uma torrente de emoções, volições, paixões e intelecções a correr desde a infância à velhice no chão duro de uma realidade proteica, convulsionada por guerras, catástrofes, tiranias, e abominações, e também rica de mil potencialidades, que ficará na História como paradigma do mais infausto e nefasto que a humanidade conheceu, a par do mais promissor. Mundo de contrastes, lírico e atormentado, de ascensões e quedas, onde a esperança, apesar de sucessivamente desiludida, deu sempre um ar da sua graça, e que não trocaria por nenhum outro, se tivesse de escolher."
Coimbra, Julho de 1984

Prefácio do autor à tradução francesa da obra "A Criação do Mundo", Vol I (1931)

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terça-feira, 7 de agosto de 2007

Waiting and groaning

Silverchair - Waiting All Day (live Sydney 2007)

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Grandeza de espírito

“Despreza tudo, mas de modo que o desprezar te não incomode. Não te julgues superior ao desprezares. A arte do desprezo nobre está nisso.”

em "O Livro do Desassossego" - Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa.
Ser um moralista por falta de coragem. Ter o horizonte curto por precaução. Andar à procura da primeira ideia que lhe sirva como um farrapo pelos caixotes do lixo. Uma forma de um medíocre convencido a imitar a grandeza de espírito é não criticar nada nem ninguém e regressar carimbado na fronte como algo a imitar pelos inferiores de espírito que lhe advenham. Qualquer um o impressiona logo que entre no seu código. Mas não te julgues superior ou inferior, julga-te só quem és se algum dia o chegares a saber. Defende essa ideia com unhas e dentes e depois é aguentar a arrochada. Então serás feliz na única dimensão da felicidade que é a de te saberes e ficares sereno com o que escolheste. Porque o inferior e o superior não são tua propriedade mas dos outros, ou seja, da relação de humilhação que estabeleceste perante eles. Mas não te humilhes. Sê homem.
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